Por Davi Carvalho
Em meio às reuniões de cúpula sediadas pelo Brasil em 2025, o 17º Fórum Acadêmico do BRICS ocorreu nos dias 25 e 26 de junho, em Brasília, reunindo especialistas e pesquisadores de nove países. O encontro foi organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e abordou temas como saúde global, inteligência artificial, mudanças climáticas, comércio, finanças e reforma da governança internacional.
O professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp e coordenador do projeto Transforma, participou das discussões e destacou o papel da pesquisa acadêmica no bloco. Segundo ele, a presença no evento reforça o esforço de inserir uma perspectiva econômica crítica, orientada pelos desafios do Sul Global, nas formulações políticas do BRICS.
Entre os resultados do fórum, foi aprovado um portfólio que mapeia 180 mecanismos de cooperação desenvolvidos pelo grupo desde sua criação. A iniciativa, conduzida pelo BRICS Think Tanks Council (BTTC), visa fortalecer a coesão institucional do bloco e servir de referência para países recém-integrados ou candidatos a ingresso. De acordo com Keiti da Rocha Gomes, diretora de Estudos Internacionais do Ipea, o levantamento oferece um panorama inédito da arquitetura de cooperação do BRICS, possibilitando identificar sinergias e ampliar o impacto coletivo das ações.
Na abertura do evento, a presidente do Ipea, Luciana Servo, ressaltou o papel do BRICS como plataforma de articulação entre países do Sul Global em um cenário geopolítico marcado por tensões e assimetrias. Para ela, o grupo permite construir respostas coordenadas com base em prioridades compartilhadas entre os países membros.
As mesas de discussão evidenciaram iniciativas já em andamento. No campo da saúde, por exemplo, foi destacada a colaboração entre China, Rússia e Índia para a produção e transferência de tecnologias de vacinas durante a pandemia. Em inovação tecnológica, foram discutidas semelhanças entre o sistema Pix, no Brasil, e o UPI, da Índia, ambos apresentados como instrumentos de inclusão financeira e desenvolvimento.
Dr. Samir Saran, presidente da Observer Research Foundation, da Índia, observou que o BRICS pode representar uma alternativa de desenvolvimento que respeita a diversidade de seus integrantes, sem perder de vista objetivos comuns. Já Sarah Mosoetsa, do Human Sciences Research Council da África do Sul, apontou iniciativas como o Novo Banco de Desenvolvimento e o centro regional de vacinas como exemplos de ações concretas com impacto direto na vida das populações.
As recomendações formuladas no fórum serão apresentadas aos chefes de Estado do BRICS durante a cúpula marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.