NOTA DO CECON

Pedro Paulo Zahluth Bastos, Luiz Gomes-Jr, Lorena Salces Dourado, Gabriel Petrini, Paulo Cesar Neves e Antonio Ibarra

  • A contração do PIB verificada no primeiro trimestre de 2020 tem forte relação com a pandemia do Covid-19, mas não com a reação das autoridades brasileiras de saúde pública.

  • Dados de fevereiro já mostraram uma tendência de desaceleração do IBC-Br que vem desde o último trimestre de 2019. A desaceleração tornou-se uma contração em março em razão do contágio econômico da pandemia. Tal contágio econômico precede a transmissão viral massiva e sua percepção no Brasil, o que se reflete em vários indicadores econômicos (como o consumo não-residencial de energia).

  • A bibliografia sobre o impacto econômico da pandemia já explicou teoricamente e identificou empiricamente os canais de transmissão internacional: 1) expectativas negativas de empresas sobre demanda e oferta; 2) redução efetiva do comércio exterior (queda de exportações e estrangulamento de importações de insumos); 3) contração do crédito e de fluxos financeiros internacionais e locais; 4) contração do gasto dos consumidores por motivos precaucionais e/ou por desemprego. Indicadores de comércio exterior, confiança e crédito mostram que todos estes mecanismos de transmissão operaram em março antes da transmissão massiva do novo Coronavírus no Brasil.

  • Já os dados do IBGE indicam que exportações de bens e serviços tiveram recuo significativo (-0,9%), refletindo a desaceleração mundial e regional. Mais significativas são a contração do Consumo das Famílias (-2%) e do setor de serviços (-1,6%). A taxa de ocupação também mostrou redução significativa no trimestre encerrado em março, piorando em abril.

  • Apresentamos dados sobre a divergência internacional entre o impacto econômico e a transmissão viral do Covid-19. Dados da OCDE e do ECDC indicam que o caso brasileiro apresenta a maior divergência entre contágio econômico e transmissão viral, ou seja, a desaceleração econômica é relativamente mais rápida que a difusão da pandemia e anterior à implementação das primeiras políticas de isolamento social. O PIB brasileiro do primeiro trimestre não refuta, mas reforça um consenso científico crescente: é a pandemia que deprime a economia, e não as políticas de saúde pública capazes de controlá-la.

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